O Brasil vai precisar qualificar três milhões de trabalhadores por ano durante os próximos cinco anos. O cálculo é do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e inclui formação inicial - para novas vagas - e continuada - para quem já está no mercado de trabalho. O Senai só vai ter condições de atender 70% do total. O restante terá de ser preparado por outras escolas públicas e privadas.

Segundo a instituição, os setores que demandarão um maior número de pessoas serão construção civil, alimentos e bebidas, vestuário, produtos de metal e máquinas e equipamentos. Em outros segmentos - extração e refino de petróleo, informática e equipamentos de transporte -, a demanda por trabalhadores crescerá acima da média, mas o volume de pessoal empregado é menor.

De acordo com a diretora de operações do departamento nacional do Senai, Regina Torres, as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), as descobertas do pré-sal, as Olimpíadas e a Copa do Mundo colaboram para esse cenário. "O desafio é ainda maior, porque as empresas saem dos grandes centros rumo ao interior, o que eleva a demanda por profissionais onde os investimentos são realizados", disse.

O governo já detectou que a falta de funcionários qualificados será um dos principais gargalos do pré-sal. Por meio do Programa Nacional de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás (Prominp), a Petrobrás está financiando a formação de mão de obra para seus fornecedores.

Na primeira fase, que termina em março, 78 mil pessoas foram qualificadas. Para a próxima fase, que vai até 2013, a empresa prevê mais 207 mil profissionais. "No início, não conseguíamos preencher as vagas dos cursos, porque as pessoas não atendiam os pré-requisitos de experiência ou conhecimentos básicos", conta o coordenador executivo do Prominp, José Renato Ferreira de Almeida.

O programa optou por trocar a exigência de experiência por um módulo de estágio nas oficinas das empresas. Também fez uma parceria com os Estados, que ofereceram aulas de reforço escolar em português, matemática e lógica para as pessoas interessadas em prestar as provas do Prominp.

Na indústria, as dificuldades para preencher vagas já começaram nas indústrias intensivas em conhecimento. O setor de tecnologia da informação está investindo no País e contratando. O Google abriu 50 vagas no Brasil, o equivalente a um quarto do seu quadro atual de 200 funcionários.

"Estamos buscando engenheiros, mas também profissionais de venda e marketing. Para nós, significa um crescimento agressivo no País", disse a gerente de recursos humanos do Google para a América Latina, Mônica Santos.

A empresa anunciou as vagas no site no início do ano e já recebeu 3,5 mil currículos. Segundo a gerente de recrutamento do Google, Aline de Lucca, todos os CVs são analisados, mas menos de 5% seguem para as próximas fases da seleção porque não preenchem os requisitos da empresa: bom desempenho acadêmico, fluência em inglês, experiência profissional e adequação à cultura.

Na Roche Diagnóstica, que produz aparelhos para laboratórios médicos, uma vaga de vendedor de aparelhos de coagulação do sangue está aberta há cinco anos. "No nosso negócio, precisamos de alguém formado em biologia ou farmácia, mas que também entenda de vendas", explicou o diretor de recursos humanos, Maurício Rossi. Ele afirmou que, em média, a empresa leva dois meses e meio para preencher uma vaga.

Nas montadoras, ainda não existe um problema de falta de mão de obra no chão de fábrica. Com o mercado exportador ainda fraco, as empresas preferem investir no aumento de produtividade do que fazer contratações expressivas. Mesmo assim, o movimento já começou.

A Ford contratou 200 pessoas para a fábrica de Taubaté e procura 109 engenheiros. "Realmente existe uma demanda maior do que a oferta de engenheiros no mercado. Se o objetivo do Brasil é competir globalmente, as montadoras instaladas no País precisam investir muito em tecnologia", disse o diretor de relações institucionais da Ford, Rogelio Golfarb.

NEGOCIAÇÕES TENSAS

Hoje já existe um déficit de mão de obra qualificada importante na construção civil, porque o setor não parou por causa da crise e quase não demitiu. Estima-se que as construtoras vão contratar entre 180 mil (nas contas da indústria) e 250 mil pessoas (conforme o sindicato) este ano. A situação é tensa entre o sindicato e a indústria e as negociações vão ser complicadas até a data-base em maio.

Segundo o presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (Sintracon-SP), Antonio de Sousa Ramalho, falta quase todo tipo de profissional no canteiro de obras: pedreiro, carpinteiro, armador. "Isso nos dá força nas negociações", disse.

O vice-presidente de Relações Capital e Trabalho do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (Sinduscom-SP), Haruo Ishikawa, nega que exista um problema grave. "Toda a mão de obra sempre foi qualificada no canteiro", disse. Ele acredita que boa parte das contratações será de trabalhadores que hoje estão na informalidade.

Por O Estado de São Paulo - SP

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