Por Soumodip Sarkar*

O escritor e humorista Mark Twain disse uma vez: “Eu raramente estou apto a ver uma oportunidade até que ela deixe de existir.” As empresas empreendedoras, especialmente as mais inovadoras, não têm medo do risco. Isso quer dizer que elas têm uma grande possibilidade de falhar. Mas uma cultura, um ambiente que apoia e aceita a possibilidade de falhar, é também um ambiente que promove mais a tomada de decisões arriscadas e o aparecimento de projetos inovadores, como é o caso dos EUA.

Das 1091 invenções canadenses num estudo de 2003 feito por Thomas Astebro, apenas 75% alcançaram o mercado. Seis dessas tiveram retorno superior a 1.400%, mas 45 perderam dinheiro. Um gestor racional não avança. Mas o empreendedor responde com os seus próprios sonhos.

Cancelar um projeto com medo de que ele seja falho é uma das características mais disfuncionais da cultura empresarial. Os gestores, às vezes, ficam relutantes em apoiar projetos que sejam arriscados, porque os erros não são tolerados. Os erros provocam o sucesso. Como o lendário jogador de hóquei no gelo Wayne Gretzke uma vez disse, “você falha 100% dos remates que não tenta.”

Robert A. Cooper avisa: “Não faça a gestão das falhas. Faça a gestão do custo delas.” Os inovadores de sucesso fazem muitas experiências nas primeiras etapas de desenvolvimento dos produtos, usando protótipos para rapidamente fazerem testes e refinarem ideias do seu projeto.

A Toyota, por exemplo, tolera a ambiguidade e encoraja as experiências para desenhar automóveis melhores. A empresa cria equipes de trabalho paralelas para o desenvolvimento de design de novos carros, reconhecendo que apenas um vai ser o escolhido. Contudo, o custo da redundância não é grave, pois a Toyota pode explorar uma variedade de conceitos de design a um custo relativamente baixo nas primeiras etapas do desenvolvimento do produto. A Toyota percebe que o maior risco não é escolher o padrão errado, mas sim o próprio padrão não escolhido.

Ao falar com os meus alunos sobre os seus planos para o futuro, muitos declaram que gostariam de trabalhar como empregado na empresa de alguém, para “ganhar experiência” antes de avançar com os seus próprios projetos. Alguns revelam os sonhos que não seguem por medo de falhar. É tempo de encorajar os nossos jovens a correr riscos e a fazer o que sonham. É tempo também para os empresários brasileiros olharem para o mapa do mundo e verificar um horizonte de oportunidades.

Lembro-me de uma experiência interessante: num encontro em Silicon Valley, onde se juntaram 100 dos chamados gurus de inovação - de CEOs a professores universitários - houve um comentário que ficou na minha cabeça. O CEO de uma das maiores empresas multinacionais da área de tecnologia disse o seguinte: ultimamente, na minha empresa, temos pedido um currículo de falhas. Os interessados em trabalhar conosco terão que entregar um CV onde têm que dizer todas as tentativas de novas iniciativas que fizeram e as suas respectivas falhas. Isso porque a minha empresa quer recrutar aqueles que tentam e os que falham também, porque é através de falhas que nós aprendemos.

Uma coisa para pensar.

* O pesquisador indiano Soumodip Sarkar, radicado em Portugal, é considerado um dos 100 principais especialistas mundiais em inovação pelo World Economic Forum.

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