O desempenho da indústria em janeiro confirma que 2010 será bem diferente de 2009. A produção aumentou 1,1% na comparação com dezembro e subiu 16% ante janeiro do ano passado, o melhor resultado apurado pelo IBGE para meses de janeiro desde 1995. O segmento de bens intermediários, que reúne matérias-primas e insumos e tem maior peso na pesquisa, puxou o saldo positivo. Para analistas, a perspectiva é de crescimento moderado do setor este ano, após o tombo de 2009.

Os saltos na produção em relação ao início de 2009 são considerados naturais porque a crise estava em seu auge naquela época. Mas o chamado crescimento na ponta, em relação ao mês anterior, mostra que a economia está em ritmo acelerado. O resultado de janeiro compensou as perdas de dezembro (-0,2%) e novembro (-0,8%) de 2009, avaliou o economista da coordenação de indústria do IBGE, André Macedo.

Para Silvio Sales, da Fundação Getúlio Vargas, na hipótese pessimista de que a indústria não crescesse entre fevereiro e dezembro deste ano, ainda assim o atual nível de produção seria suficiente para garantir crescimento industrial de 6,9% em 2010, em relação a 2009. "Como a possibilidade mais razoável é de retomada de crescimento contínuo e gradual, é factível pensar em alta de, pelo menos, 8% ou 9% para este ano."

Apesar do bom resultado, a indústria nacional ainda está longe de retornar ao nível pré-crise. Em janeiro, a atividade ainda estava 4,9% abaixo da de setembro de 2008, que marcou o recorde brasileiro.

No caso da produção de bens de capital (máquinas e equipamentos industriais), que reflete as decisões de investimentos, a produção ainda está 11,6% inferior à de setembro de 2008. Macedo lembra que essa categoria tem relação muito forte com as expectativas. "Havia muitas incertezas no fim de 2008 e início do ano passado, mas há uma velocidade de reação importante nos últimos meses."

Sales acrescenta que os equipamentos de transporte, especialmente os voltados para a exportação, impediram uma reação maior do setor de bens de capital. Mas a perspectiva no resto da indústria é positiva. Em janeiro, a produção de bens de capital caiu 0,1% ante mês anterior, resultado interpretado como estabilidade. A queda ocorreu após nove crescimentos consecutivos, com expansão acumulada de 29%.

A produção de bens intermediários, que inclui siderurgia, mineração e fertilizantes, entre outros, aumentou 2% em janeiro ante dezembro, no 13º resultado positivo consecutivo, período no qual acumulou alta de 22%. O aumento foi puxado por produtos de metal, metalurgia básica e uma parcela da produção de alimentos e bebidas. "Essa categoria está se beneficiando da normalização dos estoques e recuperação nas exportações", disse Macedo. Esse segmento, responsável pelo abastecimento da indústria, foi o que mais se aproximou do nível de setembro de 2008. Está somente 0,8% abaixo daquele nível.

O economista da LCA Consultores Douglas Uemura avalia que a ligeira queda em bens de capital ante dezembro não altera a tendência positiva dos investimentos em 2010. "O resultado surpreendeu, mas não reverte a tendência positiva. O investimento ainda está muito distante do pico pré-crise. Por isso, há espaço para crescimento a taxas robustas", acrescentou.

Para analistas, as perspectivas são de continuidade da recuperação da indústria. Alessandra Ribeiro, da Tendências Consultoria, avalia que, apesar de os resultados estarem influenciados pela base de comparação fraca do início de 2009, os dados do IBGE "sinalizam que as perspectivas para a produção industrial são favoráveis nos próximos meses, com a continuidade do cenário de recuperação". Uemura, da LCA, projeta "crescimento moderado em 2010". A estimativa da consultoria é de aumento de 10,5% na produção no acumulado do ano.COLABORARAM IRANY TEREZA E LUCINDA PINTO

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