O EFEITO simbólico, por si, é potente: no lugar onde existiu por décadas o sombrio presídio do Carandiru, palco do bárbaro episódio de 1992, surge uma translúcida, moderna e democrática biblioteca pública. Em área de 4,2 mil m2, a obra aposta em atrativos tecnológicos, facilidades para deficientes e na "dessacralização" do espaço de leitura.Haverá quem não endosse a ideia de o novo espaço acolher em suas estantes obras consideradas de baixo padrão literário -como alguns "best-sellers" que movimentam o mercado editorial. Ainda que apoiada em boas intenções, trata-se de uma perspectiva adequada ao universo acadêmico, mas imprópria para avaliar um empreendimento que pretende funcionar como um centro de lazer cultural e polo de atração de jovens leitores, sem criar barreiras a quem queira encontrar nos livros uma forma de entretenimento.

As experiências de cidades latino-americanas como Santiago e Bogotá, que serviram de inspiração para a biblioteca paulistana, já conquistaram reconhecimento internacional e merecem ser seguidas. Situações análogas, diga-se, já existem em São Paulo, por exemplo, em unidades do Sesc, nas quais arte, literatura,
revistas e jornais estão presentes e disponíveis em áreas abertas ao convívio entre cidadãos.
É claro que a nova obra não pode ofuscar os problemas enfrentados por outras bibliotecas e centros culturais da cidade. É sempre desejável que Estado e município se entendam para evitar sobreposições e irracionalidades. Bibliotecas da importância e do porte da Mário de Andrade, por exemplo, ora em reforma, devem receber o tratamento devido. É sobretudo uma questão de bom senso e de coordenação dos poderes públicos -pois em termos conceituais, uma obra não exclui a outra.

Fonte: Folha de São Paulo, 12/02/2010 - São Paulo SP

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