Oportunidade: Mais de 40 empreendimentos previstos até 2011 movimentam o mercado.

Por Jacilio Saraiva, para o Valor, de São Paulo

Com 392 shopping centers e mais de 40 novos empreendimentos previstos para serem inaugurados até 2011, o Brasil está a procura de gestores para grandes centros comerciais. "É preciso ser inovador para se diferenciar da concorrência, ter um alto senso de urgência e estar atento a detalhes", ensina o superintendente do Botafogo Praia Shopping, Rodrigo Romano, de 33 anos, há um ano na função.

Grandes empresas como Ancar Ivanhoe, Sonae Sierra Brasil, Multiplan, JHSF Participações e Brookfield, donas de empreendimentos como o Shopping Interlagos, Plaza Sul, Morumbi, Shopping Cidade Jardim e Pátio Higienópolis, respectivamente, têm inaugurações agendadas até 2012.

Antes de assumir o Botafogo Praia Shopping, centro de compras do grupo Ancar Ivanhoe com 170 lojas no bairro de Botafogo, no Rio de Janeiro, o paulista Rodrigo Romano foi gerente do Shopping Nova América, na zona norte da cidade, durante seis meses. Mas a carreira no varejo começou em 2001, quando ingressou na rede C&,A como trainee da área de compras. "Um ano depois, assumi a gerência de operações e trabalhei no Rio de Janeiro, Fortaleza e Manaus", lembra. O executivo ficou na empresa de varejo durante sete anos até aceitar o convite da Ancar. "Passei para o outro do balcão."

Formado em economia, Romano fez pós-graduação em administração com ênfase em marketing e acaba de concluir um MBA em gestão de negócios. Na nova função, lidera cinco gerentes- financeiro, operações, comercial, marketing e de arquitetura - além de 170 funcionários. Monitora desde o novo projeto paisagístico nos corredores do shopping até a receita do estacionamento. Na semana em que conversou com o Valor, acertava os últimos detalhes de uma ação que pretende transportar, de graça, turistas do Corcovado para o shopping.

As negociações com novas lojas também passam pela mesa do superintendente. Foram 20 novas marcas em 2009 e a previsão é receber mais dez em 2010. "Em pouco mais de um ano, conseguimos alterar o perfil comercial do shopping em 30%", revela. "Mas é preciso ter disciplina para a execução dos projetos."

Para Silvio Laban, coordenador de MBA do Insper Instituto de Ensino e Pesquisa e membro do conselho acadêmico do programa de pós-graduação Shopping Center Management, o setor se desenvolve de forma acelerada e provoca uma maior demanda por novos gestores. "A competitividade no segmento aumenta a busca por indivíduos capazes de liderar em contextos cada vez mais complexos, dinâmicos e incertos", diz. "É esperado que eles mostrem capacidade para a resolução de problemas, com orientação a resultados."

Segundo o coordenador do Insper, para brigar por uma vaga no mercado é necessário ter formação superior e experiência profissional acima de três anos. Além disso, as empresas querem que o profissional saiba identificar oportunidades de negócios e lidere os recursos humanos de forma estratégica e motivadora.

O Insper oferece um curso para a formação de gestores de shopping centers desde outubro de 2009, em parceria com a Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce). A primeira turma de 30 alunos será formada em 2010. A maioria dos estudantes é de executivos do setor, com idade média de 36 anos - 67% são homens. "Características como dinamismo, habilidade nos relacionamentos e capacidade de tomada de decisão também são importantes nos candidatos a gestor."

Para Evandro Ferrer, CEO da Ancar Ivanhoe Shopping Centers, empresa com 16 empreendimentos em oito Estados e faturamento de R$ 5,5 bilhões, a experiência em shopping centers não é pré-requisito para a admissão na companhia. "O importante é ter sangue varejista", diz.

No ano passado, Ferrer contratou quatro profissionais e promoveu oito pessoas nas gerências e superintendências dos shoppings do grupo. O número de promoções internas foi o dobro das contratações. "Temos uma política de valorizar a prata da casa e desenvolver talentos", explica. "Cerca de 70% dos nossos superintendentes foram promovidos internamente." A companhia mantém um banco de currículos com 5,1 mil nomes de funcionários e indicações do mercado - e até 20% desse total podem ser pinçados para os cargos de comando.

"Em 2009, a demanda por gestores de shopping foi relevante e, neste ano, a procura vai continuar", informa, sem revelar números, Rodrigo Vianna, gerente da divisão sales &, marketing da Hays, consultoria especializada em recrutamento de profissionais para média e alta gerência. O especialista observa o crescimento da demanda no setor desde 2005. Para ele, com a profissionalização do segmento, o surgimento de grandes grupos e a abertura de capital de algumas companhias, os shopping centers viram a necessidade de profissionalizar suas estruturas, buscando executivos diferenciados.

Vianna garante que não existe uma formação específica desejada, mas é importante que o executivo tenha um diploma universitário. "Graduação em administração e engenharia, e pós-graduação em varejo são diferenciais considerados pelas empresas solicitantes", revela. A faixa de remuneração vai de R$ 7 mil a R$ 20 mil mensais, dependendo do tamanho da operação e do tempo de serviço.

Segundo levantamento da Abrasce, o mercado de shopping centers no Brasil registrou um faturamento de R$ 71 bilhões em 2009 - um aumento de 9,1% em comparação ao ano anterior. Foram abertos 16 empreendimentos e 36 mil postos de trabalho. Hoje, o Brasil tem 392 centros de compras que empregam 757 mil pessoas. Para o presidente da associação, Luiz Fernando Veiga, o crescimento esperado em 2009 surpreendeu, uma vez que a estimativa era de 8%. "A crise econômica não afetou o nosso negócio", afirma.

Para 2010, a Abrasce prevê um faturamento acima de R$ 79 bilhões no segmento. São esperadas 21 inaugurações em grandes capitais e cidades do interior, com a geração de mais de 50 mil empregos. Os maiores empreendimentos- com mais de 30 mil metros quadrados de área bruta locável- serão abertos em Brasília (DF), Palmas (TO), Irajá (RJ), Jandira (SP), Maringá (PR), Belo Horizonte, Betim (MG), Salvador (BA) e Campo Grande (MS).

Em 2011, está prevista a abertura de 22 complexos, sendo que 9 serão em São Paulo. O Estado é o que mais concentra shopping centers no Brasil, com 137 empreendimentos, seguido do Rio de Janeiro, com 47 centros comerciais, além do Rio Grande do Sul e Minas Gerais, com 32 unidades cada um. Segundo o estudo da Abrasce, haverá oportunidades de trabalho também em cidades distantes dos grandes centros, como Nova Lima (MG), Blumenau (SC), Rio Branco (AC) e Campos dos Goytacazes (RJ).

A Sonae Sierra Brasil, por exemplo, já iniciou as obras do Uberlândia Shopping, na região do Triângulo Mineiro. O empreendimento de R$ 160 milhões deve ser inaugurado em 2011, com 201 lojas. A empresa é proprietária e administradora de dez unidades em São Paulo, Amazonas e no Distrito Federal e deve inaugurar novos centros comerciais em Londrina (PR) e Goiânia (GO). A JHSF, que controla o Shopping Cidade Jardim, em São Paulo, tem três shopping centers em construção - em São Paulo, Salvador e Manaus (AM).

Já a Multiplan, dona de 13 unidades, investiu R$ 380 milhões em novos empreendimentos como o Shopping Vila Olímpia, aberto na capital paulista, no final do ano passado. Em 2012, ficarão prontos o JundiaíShopping, no interior de São Paulo, e o VillageMall, no Rio de Janeiro.

A Brookfield, dona do Pátio Higienópolis e mais 16 unidades em quatro Estados, planeja abrir mais dois empreendimentos em 2010 - em Mogi Mirim e Barueri (SP). "No ano passado, admitimos 17 profissionais para média gerência ou superior", afirma Márcia Saad, diretora de comercialização, marketing e desenvolvimento da companhia. Em 2010, podem ser feitas até duas contratações.

Consuelo Gradim, superintendente do Shopping West Plaza, centro comercial com 220 lojas em São Paulo, é formada em comunicação social, com pós-graduação em administração. Está na empresa há dois anos e comanda cerca de 200 pessoas. "Sou responsável pelo gerenciamento de todas as atividades comerciais, financeiras e operacionais", diz a executiva, que trabalha na área há dez anos e já passou por cargos de decisão nos shoppings Villa-Lobos, Tamboré e Santana Parque. "É preciso capacidade para lidar com pessoas e com os desafios do ambiente de trabalho. Não existem dois dias iguais em um shopping center", ressalta. Consuelo já auxiliou até no parto de uma funcionária, ocorrido dentro da administração do shopping. "Não houve tempo de removê-la para o hospital", lembra. A criança nasceu bem e foi batizada com o nome da chefe.
Fonte: Valor Econômico

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