Mercado acelera demanda por cursos

Entre os cursos superiores, os tecnológicos são os que mais crescem em
número de matrículas, segundo os dados do Censo da Educação 2009 do Inep
(Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais).

Lançado em janeiro deste ano, o relatório mostra que o número total de
inscrições em cursos de graduação presencial aumentou de 3,48 milhões para
5,1 milhões, de 2002 a 2009 no Brasil, quase dobrando o número total em
menos de uma década.

Durante o mesmo período, o número de estudantes inscritos nos cursos de
ensino tecnológico subiu de 81,3 mil para 680,7 mil (quase dez vezes
mais). Somente em 2009, as matrículas cresceram cerca de 26% em relação ao
ano anterior.

EMPREGABILIDADE
Uma das explicações para o aumento recente na procura pelas formações
tecnológicos (mais especializadas em um campo do conhecimento) pode ser
explicada pela demanda provocada pelo próprio mercado de trabalho.

Profissionais da área de tecnologia da informação, por exemplo, estão
entre os mais procurados no país, já que a falta de mão de obra no setor é
grande.

Segundo Sérgio Sgobbi, diretor de educação e recursos humanos da
Associação Brasileira de Empresas de Tecnologia da Informação e
Comunicação (Brasscom), projeções mostram que o deficit de mão de obra na
área será de 92 mil profissionais em 2011, podendo chegar a 200 mil em
2013 se a procura pelo curso continuar baixa.

Estudo divulgado pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) em
abril, a escassez de mão de obra qualificada atingirá quase todo o país em
2011 e afetará diversos setores da economia.

O Ipea calcula que, neste ano, serão criados 1,7 milhão de novos postos de
trabalho e outras 19,3 milhões de vagas estarão disponíveis devido, em
grande parte, à falta de profissionais qualificados.

Muitas dessas vagas estão em áreas cobertas por cursos tecnológicos.

FORMAÇÃO ESPECÍFICA
O curso tecnológico de análise e desenvolvimento de sistemas ocupa o
segundo lugar na lista dos mais procurados das instituições de ensino
superior públicas do Estado de São Paulo, atrás apenas do bacharelado em
direito, segundo o Semesp (Sindicato das Entidades Mantenedoras de
Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo).

De acordo com relatório do sindicato, em 2009 foram efetuadas 6,4 mil
matrículas nas 26 faculdades que oferecem esse curso.

"Tem espaço para todos, para bacharel, engenheiro... Mas muitas vezes a
empresa precisa de alguém que tenha conhecimento naquela área específica",
explica o coordenador de graduação do Senac, Eduardo Ehlers.

Na área da informática, por exemplo, além do bacharelado em ciência da
computação, um curso mais abrangente, há formações como as de redes de
computadores ou de análise e desenvolvimento de sistemas.

Como são cursos mais específicos e com menor duração (de dois a três
anos), esses profissionais têm sido preferidos pelas empresas, que têm
pressa e buscam ocupar uma posição.

Segundo Ehlers, a empregabilidade nessas áreas chega a cerca de 90%. A
estudante Vanessa Yumi, 18, aliou o mercado em ascensão ao gosto pessoal
por matemática e desenho ao optar por uma graduação tecnológica.

Depois de concluir o ensino técnico em gestão de negócios culturais no
Liceu de Artes e Ofícios, Vanessa faz o primeiro semestre de construção
civil na Fatec (Faculdade de Tecnologia de São Paulo).

"Meu curso está em alta, porque há uma necessidade de construção de
moradias e, como a cidade está superlotada, é a gente que tem que
descobrir outras opções de como construir para não sufocá-la mais",
afirma.

Frase
"Os egressos de cursos tecnológicos têm um perfil próprio para o mercado e
sua empregabilidade é de 90% em média"
EDUARDO EHLER
Diretor de graduação do Senac-SP

Eventos impulsionam procura

Copa e Olimpíadas atraem estudantes em busca de colocação profissional
mais rápida.

Jecineide Carvalho, 20, viu na Copa do Mundo uma das principais motivações
para estudar hotelaria. Aluna do quarto semestre do curso no Senac-SP,
Jecineide já trabalha no hotel Grand Hyatt, na capital paulista, há um
ano.

"Optei pelo curso tecnológico por ter menor duração. Assim, consigo entrar
no mercado mais rápido e estar preparada até a Copa, que com certeza trará
muitas oportunidades", afirma.

Entre as áreas profissionais em crescimento no país, o turismo é uma das
que tem se mostrado mais aquecida, com altos índices de empregabilidade.
Segundo o Ministério do Turismo, 7,2 milhões de pessoas trabalham
atualmente no setor e esse número só tende a crescer.

Com a aproximação da Copa do Mundo (2014) e das Olimpíadas, no Rio, o
setor turístico deve ficar ainda mais em evidência no país. Somente no
Rio, cidade que sediará os Jogos Olímpicos, a previsão é de que 10 mil
novos quartos de hotéis estejam prontos até 2016.

"Nossa meta são 4.500 novos quartos já para a Copa e 5500 para a
Olimpíadas. Esse crescimento trará a abertura de cerca de 40 mil novos
postos de trabalho no setor e eu diria que 60% são voltados para
profissionais com curso superior na área", afirma Alfredo Lopes,
presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Rio de
Janeiro.

"A cada semestre, aproximadamente 30 empresas do setor hoteleiro nos
procuram para selecionar alunos. Da segunda metade do curso em diante,
diria que 80% dos alunos já estão atuando no mercado", informou Eleni
Paparounis, coordenadora do curso de tecnologia em hotelaria do Senac-SP.

GASTRONOMIA
Outra área que também deve se beneficiar com os eventos é a gastronomia. O
aumento do turismo no país vai agravar a falta de mão de obra do setor e o
resultado é a criação de mais espaço para profissionais com formação
acadêmica.

Amanda de Barros Piloto, 22, aluna do quarto semestre de gastronomia no
Senac-SP, acredita que o curso é um diferencial. "Eu sei que não sairei do
curso como chef de cozinha, mas as aulas dão uma ótima base para quem quer
começar na profissão", declara.
  MARINA DARMAROS
VANESSA CORRÊA DA SILVA
DE SÃO PAULO

Fonte: Folha de São Paulo
 

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