Subsidiária da Mercedes passa a matriz alemã e Avon brasileira lidera o ranking de vendas pela primeira vez

Márcia De Chiara

O Brasil ganhou importância nas vendas das multinacionais instaladas no País. De cosméticos a caminhões, passando por refrigerantes, chocolates e televisores, as subsidiárias brasileiras se transformaram no principal mercado mundial ou ascenderam no ranking dos países com mais vendas.

O crescimento mais acelerado do consumo nos mercados emergentes em relação ao dos países desenvolvidos era uma tendência que vinha se desenhando nos últimos anos. Mas esse movimento se fortaleceu com a crise a partir do último trimestre de 2008. Além disso, deve funcionar como um "ímã" na atração de novos investimentos dessas companhias, interessadas em explorar o potencial do mercado local.

Pela primeira vez em 56 anos, a filial brasileira da Mercedes Benz em 2009 ultrapassou a matriz alemã na venda de caminhões. Isso transformou o País no maior mercado da empresa no mundo. De janeiro a setembro de 2009 foram vendidos no mercado brasileiro 23 mil caminhões.

A história se repete na gigante de vendas de cosméticos, a Avon. Sem revelar os volumes vendidos por país no terceiro trimestre de 2009, a companhia informa que o Brasil foi o seu principal mercado entre julho e setembro de 2009. Desde 1958 no País, pela primeira vez o Brasil ultrapassou os EUA, que sempre lideraram o ranking de volume de vendas, tendência que deve ser mantida em 2010. (veja matéria na página ao lado).

Na suíça Nestlé, o Brasil ainda não chegou ao topo, mas está quase lá. Segundo a empresa, pelo desempenho parcial de 2009, a companhia se mantém na vice-liderança em volume de vendas, "mas está na iminência de passar da quarta para a terceira posição entre os maiores faturamentos do grupo, tomando o lugar da França."

Na Coca-Cola, o Brasil é o quarto maior mercado em volume de vendas, atrás da China. Mas, no terceiro trimestre de 2009, a quantidade de refrigerantes, sucos e chás vendidos no Brasil cresceu 3% em relação a igual trimestre de 2008. A média mundial de crescimento foi de 2%.

"O Brasil é muito importante hoje para a corporação", afirma o diretor de marketing da LG no Brasil, Eduardo Toni. O País é o segundo maior mercado do grupo no mundo em volume de vendas e faturamento, atrás dos EUA e excluindo a matriz coreana. Mesmo sem ter os números consolidados de 2009, o executivo acredita que a posição do País melhorou. "O Brasil deve estar um pouco melhor que os EUA porque a nossa crise foi menor que a americana."

Marcelo Gil, líder global de Estratégia Corporativa da Accenture, consultoria que atende às grandes multinacionais, confirma que houve um avanço dos mercados emergentes nos rankings de volume de vendas físicas e de faturamento das multinacionais. Mas a crise internacional acelerou essa tendência. "Os países emergentes sofreram menos que os desenvolvidos porque há uma energia emergindo com essa nova classe média que tem muita disposição para gastar", diz.

MASSA SALARIAL

Com a queda da inflação e o aumento do emprego, a renda disponível para os brasileiros aumentou e alimentou o consumo. Esse fenômeno explica o surgimento da nova classe média, segundo o presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet), Luís Afonso Lima. Nos últimos seis anos, a massa real de salários cresceu 35%.

"A crise atrapalhou esse crescimento", pondera. Só que, como o Brasil é uma economia relativamente fechada, o País ficou blindado. "O que era uma desvantagem virou vantagem."

É essa vantagem que deverá funcionar como um "ímã" na atração de investimentos. "Como os mercados de origem não estão registrando crescimentos expressivos de consumo, as empresas têm de procurar outros lugares para investir."

O Banco Central projeta investimentos estrangeiros na produção de US$ 45 bilhões em 2010, um salto de 80% em relação a 2009. Na visão do BC, está em curso uma mudança estrutural. As filiais brasileiras deixaram de ser vistas como negócios de segunda linha. "O Brasil virou mercado estratégico para as multinacionais", diz uma fonte do BC.
Fonte: Estadão

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