Liderança do Estado de São Paulo na produção de pesquisa científica esbarra em deficiências do ensino médio
Editorial
SÃO PAULO responde por cerca de 21% da população brasileira e 31% do PIB nacional, mas produz mais de 50% da pesquisa científica no país. Há razões históricas para tal desempenho -desde a fundação da USP, em 1934, à adoção, décadas depois, de parcelas fixas da arrecadação para financiar as três universidades estaduais e uma fundação de amparo à pesquisa (Fapesp). A receita estável contribui para o Estado manter um nível de dispêndios em pesquisa e desenvolvimento (P&,D) de 1,52% de seu PIB, superior à média brasileira de 1,2%, segundo dados de 2008. Em paralelo, vem diminuindo a dependência de verbas públicas -inclusive das parcelas decrescentes dos fundos federais- para sustentar esse investimento, estratégico do ponto de vista da competitividade econômica. Em 2008, 62% dos R$ 13,5 bilhões investidos vieram de empresas privadas.

Apesar das boas novas, há um gargalo à vista. Não será trivial superá-lo, mesmo elevando a despesa com P&,D para 2,3% até 2020 -meta
estabelecida para conduzir o Estado à média de investimento dos países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). O diagnóstico partiu de Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da Fapesp, na abertura da Conferência Paulista de Ciência, Tecnologia e Inovação. O brilho relativo da pesquisa paulista no contexto nacional e latino-americano -o Estado encontra-se à frente de México, Argentina e Chile em produção científica- empalidece quando os termos da comparação são globais. Países de população similar à paulista, como Coreia do Sul e Espanha, produzem três vezes mais P&,D que São Paulo. O problema não está na produtividade, pois cada pesquisador do Estado publica, na média, um número de estudos comparável ao dos pares espanhóis e sul-coreanos. É de quantidade, mesmo, que se trata: conta-se apenas 0,8 cientista para cada grupo de mil habitantes no Estado (o que fica dentro da média latino-americana). Seria necessário, portanto, triplicar o número de pesquisadores -nos próximos 15 anos, como defende Brito Cruz. O fator limitante, segundo o diretor da Fapesp, não se encontra no sistema de educação superior, pois a quantidade de vagas por ele oferecida no Estado já seria maior que a de egressos do ensino médio. Este é o gargalo real: faltam formandos do segundo grau, e formandos com boa formação, para sustentar o aumento paulatino do contingente de pesquisadores, que dobrou de 25 mil para 50 mil de 1995 a 2008. Segundo dados de 2007, só dois terços dos alunos paulistas concluíram o ensino médio até os 19 anos, a idade recomendada. A "nota" desse nível de ensino na rede estadual pública paulista, registrada no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação), está em 3,4, abaixo da média do Sudeste (3,7) e até da nacional (3,5). Não é a primeira vez que se identifica o ensino médio como calcanhar de aquiles da educação brasileira e paulista. Agora fica mais evidente que ele também ameaça a ciência, a tecnologia e a capacidade de inovar do Estado e, por extensão, do país.

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