A experiência de consumir um produto e dar a sua opinião como pagamento será oferecida aos brasileiros a partir do mês que vem, quando o Clube Amostra Grátis abre as suas portas em São Paulo. Em junho, a cidade receberá outra loja de produtos gratuitos, a Sample Lab. Ambas estarão localizadas em regiões badaladas da capital: o Clube Amostra Grátis na Vila Madalena e a Sample Central na Rua Augusta, do lado dos Jardins. Nessas lojas, inspiradas em modelos do exterior, o cliente "paga" com a sua opinião sobre o produto. As avaliações são enviadas à indústria que, efetivamente, paga para expor seus produtos e pela pesquisa.

A proposta é oferecer lançamentos ou itens que estão em fase de testes, dentro do conceito que os publicitários batizaram de "tryvertising", mistura de experimentação e propaganda. Assim, a indústria confere a aceitação dos produtos e pode corrigir rotas ou obter novas ideias. À disposição do visitante, haverá desde alimentos e bebidas até calçados, de valor inferior a R$ 100. Será possível testar produtos mais caros, como os de tecnologia, só que na própria loja.

"Trata-se de uma maneira mais eficiente de chamar a atenção do consumidor para um lançamento, do que a simples distribuição de amostras grátis, que acontece de forma aleatória", diz João Pedro Borges Badue, sócio da Sample Central, franquia da Sample Lab, lançada em 2007 em Tóquio por um australiano. "O cliente decide o que levar e não experimenta só porque é de graça", diz. É cobrada apenas uma anuidade, que no caso da Sample é de R$ 15. A empresa nasce com investimento de R$ 4 milhões, tendo como sócios, além de Badue (diretor da agência CerejaPRN), o publicitário Celso Loducca, a agência Bullet, os fundos DGF Investimentos e Calés Investimentos e o Ibope, que vai validar as pesquisas. O cadastramento dos interessados começa esta semana, com o agendamento do horário da visita, mas a loja abre em 30 de junho.

Na rua Harmonia, os consumidores poderão conhecer o Clube Amostra Grátis a partir do dia 11. Segundo o sócio Luiz Kajibata Gaeta, o casarão de 400 m2 foi escolhido a dedo. "Queríamos um lugar mais selecionado, que não ficasse próximo de metrô ou no centro, porque não haverá agendamento e as visitas serão espontâneas", diz Gaeta, um ex-empresário de mídia exterior. O consumidor precisa se cadastrar no site e pagar uma taxa de R$ 50, válida por um ano. Gaeta e o sócio, Denis Shimada, investiram cerca de R$ 2 milhões e esperam faturar, pelo menos, R$ 3 milhões no primeiro ano. Das empresas, será cobrado R$ 8 mil por produto, incluindo a exposição por 15 dias e uma pesquisa básica.

Já a Sample Central pretende faturar R$ 7 milhões. As fabricantes que quiserem ver seus produtos nas prateleiras vão desembolsar entre R$ 4 mil e R$ 5 mil. E para saber o que os clientes pensam, pagarão entre R$ 6 mil e R$ 7 mil - custos por produto.

Trata-se de um valor bem inferior ao cobrado por pesquisas tradicionais, diz Marcos Machado, sócio da Top Brands. "Uma pesquisa quantitativa, em nível nacional, sai por R$ 500 mil", diz ele, para quem esse espaço pode servir como primeiro filtro para as novidades.

A abertura das lojas brasileiras ocorre seis meses após a estreia em Barcelona da Esloúltimo, que se tornou referência em loja grátis pela popularidade alcançada nas redes sociais. Criada pela consultoria de marketing Guía de Tendencias, a Esloúltimo precisou ajustar o modelo. Primeiro, oferecia 10 produtos grátis aos visitantes, que poderiam voltar a cada 15 dias, pagando € 5 por semestre. Agora, são cinco produtos e a visita seguinte só pode acontecer com mais de 30 dias da anterior. Detalhe: são € 5 por visita.

Segundo Virginia Bernal, gerente de contas do Guía de Tendências, a mudança ocorreu porque o número de clientes (entre 500 e 700 ao dia) estava acima do previsto. Assim, a cobrança serviu para ajustar a audiência. Em compensação, diz Virginia, a Esloúltimo aumentou os convites aos clientes para voltar à loja, o que os isenta do pagamento de € 5.

"Para a maioria, ir uma vez ao mês é suficiente. Mas, se você vê no nosso site um lançamento de um xampu que interessa, talvez ache que vale a pena pagar € 5 para voltar", diz. A Esloúltimo também começou a cobrar pela exposição dos produtos. Antes, o modelo só se baseava na venda das pesquisas.

No Brasil, o visitante pode levar cinco produtos de graça a cada visita e voltar quantas vezes quiser, desde que responda os questionários sobre os itens. Diferentemente do Clube Amostra Grátis, na Sample Central será preciso agendar a visita - limitada a uma por dia, com duração de uma hora. Segundo Badue, a experiência estimula compras nas lojas convencionais. "Na Sample Lab em Tóquio, 76% dos visitantes compraram o produto que haviam levado de graça."
Fonte: Valor Econômico

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